segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

[Resenha] As Aventuras de Pi

MARTEL, Yann. As Aventuras de Pi. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. 371p.

RESENHA
Capa - Editora Nova Fronteira
Por Juliana R. Santos

Não sei se este livro poderia ser considerado literatura fantástica, mas sem dúvida é uma história fantástica de sobrevivência, além de ser um livro bem interessante, então acho que tá valendo. Em 2012, teve sua versão cinematográfica dirigida por Ang Lee e ganhou 4 Oscares, entre eles, o de melhor diretor. 

O livro narra a história de um autor à procura de uma boa história, depois do fracasso de vendas do seu primeiro livro. Enquanto tenta escrever, conversando com as pessoas, conhece um homem que lhe fala da incrível história de Piscine Molitor Patel, ou Pi, como ele mesmo escolheu ser chamado. 

Pi era um garoto indiano muito religioso, e quando digo muito religioso, quero dizer muito mesmo, nunca conheci ninguém que fosse praticante de três religiões ao mesmo tempo. Ele havia crescido na Índia, no zoológico dirigido por sei pai, o que lhe deu parte do conhecimento necessário para sobreviver em um bote com um tigre adulto. Durante uma viagem pelo Pacífico com destino ao Canadá, onde seguia não só Pi e sua
família, mas também vários dos animais de seu zoológico, o navio naufraga, deixando o jovem Piscine, de 16 anos, sozinho em um bote com uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre. 

Os capítulos são alternados entre a narrativa, em primeira pessoa, de Piscine, com as percepções do autor sobre a casa e a atual família do mesmo, como fotos, ídolos espalhados pela casa, e mesmo emoções demostrada pelo indiano durante seu relato. Essa alternância de capítulos dura até quase metade do livro. 

Apesar da falta de aventuras, guerras, lutas e outros fatores que tanto atraem leitores de Fantasia (eu inclusive), a narrativa não chega a ser chata, mas é um livro que nós faz refletir, mais do que vibrar. A história contada por Pi é cheia de ironias, que quase nos fazem rir, apesar da situação adversa vivida pelo personagem. O livro também é repleto dos devaneios um tanto delirantes de Piscine, que resultaram nos belos efeitos em 3D presentes no filme. O mais interessante é que, em vários momentos, é quase impossível
diferenciar o que são delírios de um náufrago, enfraquecido e à beira da morte, e o que está sendo realmente vivido pelo mesmo. Chegamos até mesmo a nos perguntar se toda a história não seria uma invenção de uma mente que se recusa a relembrar o horror da dura realidade. 

Pode-se até mesmo dizer que a situação do jovem indiano, sozinho em um bote, tentando sobreviver com um tigre, e se percebendo, cada vez mais animalizado, chegando a quase se equiparar ao feroz tigre, seria uma metáfora de nossa própria vida. Mas quanto a isso, acho que vou deixar cada um tirar suas próprias interpretações. Apesar da falta de ações constante, e do ritmo não tão rápido, considero o livro muito bom, e recomendo, tanto o livro quanto o filme, para serem lido e assistido em dias em que se esteja mais reflexivo e menos ativo, afinal, todos temos dias assim, não é mesmo? Caso contrário, pode ser que o ritmo mais lento desagrade alguns dos leitores mais ativos. 

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