terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

[Resenha] Calvin e Haroldo: o livro do décimo aniversário

WATTERSON, Bill. Calvin e Haroldo: o livro do décimo aniversário. São Paulo: Conrad, 2013. 208p.

   Este livro poderia ser considerado um livro de quadrinhos, mas como ele possui bastante conteúdo escrito também, achei que valia a pena resenhá-lo como um livro comum.


Capa - editora Conrad
Quem não conhece a história do garoto Calvin, uma criança imaginativa e rebelde com suas engraçadíssimas e inteligentes tiradas, e seu melhor amigo o tigre Haroldo (em inglês, Hobbes). Talvez as gerações mais novas ainda não o conheçam, pois as tiras desses personagens tão carismáticos, desde sua criação, em 1985, eram vinculadas em jornais, meio de comunicação que anda caindo em desuso ultimamente, pelo menos para os mais jovens, que preferem recorrer a internet para se manterem informados. Para estes, posso adiantar que realmente vale a pena procurar algumas tiras para ler. 

  O livro, além de uma coletânea de tiras, reunidas pelo próprio quadrinista Bill Watterson, criador de Calvin e Haroldo, traz uma breve história dos quadrinhos e de sua participação nos jornais, abordando as principais mudanças ocorridas do início do século para cá e criticando o espaço cada vez mais reduzido reservado às tirinhas, argumentando que, com o pouco espaço disponível, é difícil para o artista trabalhar de modo satisfatório. O autor também expõe suas opiniões de forma bastante interessante com relação ao licenciamento de personagens e aos processos de criação dos quadrinhos. 

  Com relação às tirinhas em si, que por si só já dariam motivos de sobra para adquirir o livro, este possui uma coleção das mais diversas, envolvendo desde histórias engraçadas até as que fazem refletir sobre a vida, passando é claro pelas críticas sociais, tudo isso de forma bastante divertida e inteligente. O interessante das coletâneas deste tipo, é que elas permitem acompanhar quadrinhos que formavam uma história em sequência, publicadas uma após a outra diariamente nos jornais, e que hoje em dia, dificilmente se poderia ter acesso. Além disso, na coletânea contamos com diversos comentários do autor que falam do processo criativo e das influências para determinada sequência de quadros, o que torna a leitura muito mais interessante. 

  Para os que não conhecem, copiarei aqui um pequeno trecho do livro, onde o autor descreve alguns dosm dos personagens que compõem o elenco, juntamente com o que o inspirou a criar cada um. Para não tornar a postagem grande demais, falarei apenas dos dois personagens principais, que dão nome aos quadrinhos. 


"Calvin - Tem esse nome por causa de Calvino, um teólogo do século XVI que acreditava em predestinação. A maioria das pessoas acha que Calvin é baseado em um filho meu ou em lembranças detalhadas da minha infância. Na verdade, eu não tenho filhos e fui uma criança tranquila e obediente - quase o oposto de Calvin. Uma das razões por que é divertido escrever as falas de Calvin é que na maioria das vezes eu concordo com ele. Calvin é autobiográfico em certo sentido, porque ele encara as coisas da mesma forma que eu, mas na minha idade adulta, não na infância. Muitas das afirmações e metáforas de Calvin são minhas. Tenho para mim que a maioria das pessoas envelhece sem amadurecer e que dentro de cada adulto (e às vezes nem é preciso escavar muito fundo) existe um pestinha que quer que tudo seja feito à sua maneiro. Eu uso Calvin como uma válvula de espace para minha própria imaturidade, como uma forma de manter um olhar curioso a respeito do mundo, como uma maneira de ridicularizar minhas próprias obsessões e como um modo de tecer comentários sobre a natureza humana. Apesar de não querer alguém como o Calvin na minha casa, no papel ele me ajuda a entender e suportar as coisas da vida." (WATERSON, 2013, p. 21)

"Haroldo (Hobbes, no original) - tem esse nome por causa de um filósofo do século XVII que tinha uma visão pessimista da natureza humana e possui a dignidade, a paciência e o bom senso da maioria dos animais que conheci. Haroldo foi inspirado em grande parte em uma gata que tive, uma bichana rajada chamada Sprite. Além de ser longilínea e ter um rosto largo como o de Haroldo, ela também foi o modelo para a personalidade dele. Ela era tranquila, inteligente, amigável e adorava brincar de espreitar e dar o boto. Foi Sprite que inspirou a ideia de Haroldo receber Calvin atacando-o em alta velocidade em pleno ar. [...] Aquilo que chama de "grande sacada" da minha tira - as duas versões de Haroldo - muitas vezes é mal compreendida. Não vejo Haroldo como um boneco que milagrosamente ganha vida quando Calvin está por perto. E também não considero que ele seja um produto da imaginação de Calvin. A verdadeira natureza de Haroldo na verdade não me interessa, e nas histórias existe sempre uma maneira de contornar esse problema. Calvin vê Haroldo de uma forma e as demais pessoas de outra. Acho que é assim que as coisas funcionam na vida. Nenhum de nós enxerga as coisas exatamente da mesma maneira, e eu retrato isso de modo bastante literal nos quadrinhos. Na verdade, Haroldo é muito mais uma referência ao caráter subjetivo da realidade do que um boneco que ganha vida." (WATTERSON, 2013, p. 22)

E isso encerra a resenha de hoje, espero que tenham gostado. Para encerrar e deixá-los com vontade de ler, deixo ai embaixo uma das tiras do livro. Não é a mais engraçada, mas foi a que consegui pegar.



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